domingo, 26 de julho de 2015

ANTES BEBER

Entre os livros e os copos vou levando a minha vida. A Joana não aparece no "Bacchus". O Chaimite tornou-se empresário. Deveria ter trazido mais dinheiro. Quero mulheres, quero conversa. Assim sou o poeta solitário. As gajas passam a vida a trabalhar e a cuidar da casa. Enquanto eu estou sempre livre enquanto o dinheiro durar. Os meus textos subversivos são publicados no "Jornal de Notícias". Dinamito esta merda. Só me falta uma coluna só para mim. Mas não há dúvida que estou a atingir um certo patamar. Só me falta um empurrãozinho. Estes óculos dão-me um ar de rock-star. Os livros enriquecem-me. Sou mesmo a puta do rock n' roll. Ficava aqui noite fora. Até dormia na praia. Só quero mulher. Uma mulher que me compreenda, que não desatine, que não seja quadrada. Só quero mesmo mulher. Beberia toda a noite para a conseguir. Desceria aos infernos. Sou tão louco, minha gente, nem imaginais. Sou o homem do bar que bebe. Sou o Jim Morrison, sou o anjo do mal. Merda! Hoje é que deveria ter trazido mais dinheiro em vez de ficar agarrado ao cu da outra gaja que nem sequer agradeceu. Gajas que não valem a pena. Não são como a Sónia que chama por mim. John Barleycorn. Beber sem saber quando parar. Também o que é que estes gajos que me dão? Tédio, náusea, repetição. O que é que estes gajos me dão? Capitalismo e televisão. Não, não suporto mais. Esta vida mata-me. Antes beber. Antes passar o tempo a beber, sra. psicóloga. Não há revolução na Grécia. Não há revolução em lado nenhum. Antes beber.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

ESCREVO E NINGUÉM LIGA

Escrevo e ninguém liga. Os outros ganham prémios, dizem baboseiras, fodem-me a cabeça. Escrevo e as miúdas nada. Não sei que paleio é que os outros gajos têm. A mim ouvem-me quando não estão ocupadas ou escravizadas. Puta de vida imbecil esta gente leva. Eu, ao menos, venho à cidade, compro os meus livros, bebo os meus copos. E esta gente fala não sei de quê. Não sei realmente o que quer, para que veio. Vêm beber uns copos e ter umas conversas imbecis. Não aprofundam. Não partem esta merda. Não há bombas nem cocktails molotov. Ninguém se mexe para nada. E eu, com Marx e Bakunine, não consigo mudar isto. Escrevo e ninguém à minha mesa. Escrevo e bebo e a miúda do lado irrita-se. Não há um amigo, uma amiga nesta cidade? Não há quem venha ter comigo? Não há o Olimpo. Poderia até ficar noite fora. Poeta dos bares e das noitadas. Nem tu me ligas, Gotucha. Bebo por beber até ao raiar da aurora.

sábado, 18 de julho de 2015

O ABSURDO

Continua a trocar-se dinheiro por coisas. Assim prossegue a vida. Não deixa de ser absurdo. Outros matam por Maomé e Alá. Outros continuam a negociar tudo. Não creio que tenha sido por isso que o homem veio ao mundo. Até porque o empregado do Candelabro me ofereceu uma cerveja. Ainda há gestos de dádiva. O homem veio ao mundo para se realizar. Veio para conhecer, veio para a demanda, veio para a glória. Por isso brincava e jogava na infância, por isso tinha curiosidade, por isso fazia da vida um experimento permanente. Nada disso tem a ver com poder, nada disso tem a ver com dinheiro. Por isso falamos, com Nietzsche, do feriado permanente, da festa permanente. Por isso nos opomos ao trabalho forçado e obrigatório. Tem de haver uma comunhão do nosso mundo interior com o mundo exterior. Uma comunhão da beleza, da arte com o espírito. Mas, infelizmente, poucos compreendem isto. Continuam agarrados ao dinheiro e ao trabalho. Continuam agarrados à troca e ao consumo. Pouca gente filosofa. Pouca gente lê os filósofos. Não procura a maravilha. Associa-a a Deus e a superstições. Quando ela está dentro de nós. Temos uma grande alma, um grande coração, uma mente prodigiosa. Bom, pelo menos alguns de nós. E não fazemos uso deles. Deixamo-nos levar pelas fantasias dos políticos, do mercado e da finança. Não somos livres. Não nos realizamos, não desenvolvemos as nossas potencialidades, não somos os nossos próprios deuses.

sábado, 11 de julho de 2015

A MISSÃO DO POETA

O poeta, o escritor, segundo afirma Sartre nas “Palavras”, tem por missão salvar os seus semelhantes. Os seus livros são uma missa solene que acorda os homens para a bênção de um Céu do qual ele será o bom emissário. O poeta é o enviado dos deuses, já dizia Platão. E, de facto, nestes dias tenho-me sentido na demanda da mulher e da sabedoria. Há alturas em que nem sequer me sinto deste mundo, em que vou atrás da loucura. Ocupo o mesmo espaço dos meus semelhantes, venho ao café ou à confeitaria, ouço as conversas, mas parte de mim não está cá, está no mundo das ideias. Até a política me parece ridícula, de tão baixa que é. Não, não sou daqui. Venho de outros reinos. Toco a maravilha. No entanto, algo me aproxima dos homens. A criação de um mundo novo. O Céu na Terra. Quem sou eu realmente? Porque não sou como eles? Porque não aceito a rotina?

ÁLCOOL

Bebo
Como o Bukowski
Como o Pacheco
Como o Jaime
Como o Joaquim
Como o Alba
Sou deles
Está-me no sangue
O tédio dos dias, o trabalho
Aborrece-me
Escrevo
Nem sequer
Faço um grande esforço
Não faço parte da classe operária
Mesmo que milite num partido operário
Não sou preguiçoso
A puxar pela cabeça
Sigo a via errática
Sou de Dionisos e do Xamã
Detesto os quadrados e os engravatados
Os cães do sistema
Gosto de ser vadio
De andar à solta
Como Agostinho
Faço asneiras
Muitas asneiras
Mas, enfim, cheguei até aqui inteiro
Ainda vão ter de me aturar
Não sei por quanto tempo
As psicólogas chateiam-me
Por causa do álcool
Estão sempre a chatear-me
E eu continuo a beber
O álcool dá-me vida
Alegria eloquência
Aproxima-me dos outros
Tornei-me neste gajo
Um gajo porreiro
Um tipo sincero
Que dá umas curvas
Que se faz às gajas
Que diz poemas
Que até pode vir a ser
Uma estrela
Que já tem um percurso
Um legado
Uma história.