domingo, 31 de maio de 2015

Não, não sou igual a estes burgueses. Eles até desconfiam de mim, das minhas barbas. Também não sou do proletariado, do proletariado convertido, esses desdenham da cultura livresca. Tenho alguma coisa de aristocracia, de nobreza, misturada com pequena burguesia radical. A verdade é que nada tenho a perder. Estou entre o "No Future" e a revolução. Por isso bebo. Porque a sociedade mercantil se tornou insuportável. Porque há períodos em que nada ouço de jeito. Apesar de ser contra o dinheiro, gostava de ter mais uns trocos no bolso. Felizmente, ainda há umas miúdas bonitas e inteligentes com conversas elevadas que me ouvem. E uns amigos. Senão era só tédio e ignorância. Não, não sou igual aos burgueses. Percorri outros caminhos. Estive no inferno. A minha família não me conhece. Nunca me viu com os copos. Cresci nos bares até ser dia. Cheguei até aqui vivo. Apesar de tudo, apesar das patadas.

sábado, 30 de maio de 2015

QUE QUEREM ESTES JOVENS?

Que querem estes jovens? Para onde correm? Nós ouvíamos rock, bebíamos uns copos, fumávamos uns charros, discutíamos a vida, alguns de nós tinham ideais. Eles parecem perdidos. Não sei o que discutem. Muitos poucos terão ideais. Conformam-se com a vidinha ou então entram em depressão, auto-mutilam-se. E é a isto que conduziu o capitalismo, o neo-liberalismo, o Reagan, a Thatcher e sucessores, mas eles também têm culpa. Não questionam o porquê das coisas. Não questionam o funcionamento da sociedade. Perdem-se em futilidades, em banalidades como a grande maioria. Realmente a maioria das conversas são desinteressantes. Salva-se este e aquele, esta e aquela, ainda assim existem pressões dos diversos patrões, dos diversos papões. Parece que nunca mais vem a puta da liberdade absoluta. A liberdade de fazeres o que queres sem teres polícias atrás de ti, controleiros ou castradores. A liberdade de seres quem és, quem realmente és, de beberes quando te apetece, de gozares quando te apetece. Não, elas parecem distantes, inacessíveis. Parece que foste amaldiçoado por estares teso. Enquanto esses imbecis cheios de pasta aparentemente te ultrapassam. E depois ouves imbecilidades, apesar de te julgares o maior, apesar de seres muito inteligente e de leres muitos livros. A quantas cervejas, a quantos whiskies estás da liberdade? Porque perdes a pica e te tornas sorumbático? Bem te publicam nos jornais, bem te dão a palavra mas estranhamente ficaste apático. Bom, talvez estejas apenas mais reflexivo. O que é facto é que estás no Pátio a ouvir uns tambores enquanto uns gajos dissertam ao balcão. Não, os endinheirados não são mais do que tu nem ocupam mais espaço na Terra. Pelo contrário. Tu enriqueces-te com as tuas leituras, com a música que ouves, com o que vives, com o que discutes. Nem sequer precisas de muito dinheiro. E, contrariamente ao que possam pensar, és extremamente objectivo em certas coisas.