quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Dona Oncilda Pintadinha


     O mais importante é a gratidão e compaixão!

O mundo esta carente de pessoas com ouvidos de luz, esta carente de pessoas com afeto cuidado.

Poucos são aqueles que caem aqui   e que são normais para compreender as vidas , as loucuras, o desespero para conseguir um copo com água, uma cama limpa e quente, um abraço ao fim do dia.

Mais complicado ainda é conseguir entender que há muitas pessoas que tem muita estabilidade financeira, emprego, saúde e tudo na zona de conforto e já nada fazem de novo, nem se quer sonham coisas melhores e com uma gama de potencialidades nas mãos.

Quem sempre esteve entre o limiar e conquista de um dia de estabilidade, quem já nasceu em crise, viveu na crise, vive na crise, sobrevive na crise não consegue viver na zona de conforto, porque nunca lá esteve, por mais de algumas poucas horas.

A luta maior é com o que não é nosso, e sim o que nos proporcionam de bom, mas por pouco tempo, e  antes que ocorra o chama “acomodar-se”, precisamos fugir, porque não são nossas conquistas, é a conquista do outro.

Eu já ouvi milhões de vezes:

Eu sempre te sustentei.

Eu já te dei mais de x em dinheiro.

Eu já te dei de tudo.

 

Eu sempre segui de mãos vazias e leves, porque não levo nada comigo que foi dado sem fraternidade, a cobrança para mim é como uma traição.

E muitas das vezes quando quero retribuir, sou “esculhambada”, e distorcem todas as minhas atitudes e intenções.

Eu sei gritar, caluniar, berrar, e ser burra como uma manada, posso me armar em matilha e em leoas, bicho de outro planeta.

Mas sei como é duro a humilhação de ter que ser “rasteirinha”e  “humildizinha”, quando necessitei, quando precisei, quando tive que pedir ajuda.

 Eu já fui muito além do que se pode chamar pobre, faminta, miserável e só quem anda com lobos sabe angariar o sustento do dia a dia.

Devo-lhe dizer que sei perdoar, por que já morri em muitas mãos, já fui peso nas costas de gente que dizia que me amava, já fui cruz nas costas de quem se fui serva.

Já fui capacho e tapete de muita gente, que se aproveitaram da minha bondade, origem , falta de documentos, e falta de informação.

Eu poderia ter ficado para sempre em Minas, nula e cega para a verdade da vida.

Mas a vida fez me ver o mundo por outra dimensão, a busca, a dor, a vergonha da doença, a dor de ser sempre chinelo no pé, a dor de ter que pisar na poeira e ninguém fazer-te de guia para passar na escuridão ate chegar a casa, ou para pegar um ônibus.

                                                                         NÃO!

 Ninguém vai dizer-me que tem culpa do meu sofrimento, que a vida é mesmo assim!

Mas muitos viram- me, passaram por mim, comeram da comida que para mim já era pouco, beberam da água que eu tinha que buscar no balde, dormiram  na cama que eu havia preparado para descansar.

Não posso chegar, agora, e ter misericórdia do mundo por isto.

Não posso ter piedade dos que sofrem, porque se eu estou aqui, muitos chegarão lá...

Não se trata de ter humildade, trata-se de ter gratidão ,por todos que nos enalteceram e todos que nos ludibriaram.

Este sim é o amor infinito...

Porque a nação clama por mais semeadores, por mais pescadores...

Mas cada vez mais surgem entre os encarnados os ceifadores das sementeiras alheias.

Eu agradeço- te.

Eu rogo-te louvores e luz em Deus meu Criador e Mestre Maior, por todas as horas e gotas de vida e alimento que compartiu com meu corpo, alma e espírito.

Agradeço-lhe a tua visão multidimensional e em abraçar minha causa, por ver e sentir a minha forma frenética de viver e sentir a vida.

Agradeço-lhe o fim de tarde, o cuidado elaborado de si, para receber –me, para minha chegada.

Agradeço-lhe, a tua nobre riqueza espiritual em conseguir ver - me como sou, simples como sou, com todas as minhas falhas de Santo André, com meus arranques de furacão verbal.

 Sou os espelho dos meus genes, não posso fazer engenharia –reversa de algumas partes  das minhas “neuromecânicas”.

 Não vejo o mundo por uma visão linear e plácida, vejo por um caleidoscópio Gigante e tudo gira muito rapidamente, não tenho controle sobre muitas coisas.

Mas vejo, ouço e sinto tudo com muita intensidade.

Mas não estou no mundo para o imediatismo, estou para a plena emancipação em mim e no todo.

Somos todos uma rede, mas muitos andam desconectados da Mater.

 

Att,

 

 Dona  Oncilda Pintadinha

 

 

 

 

 

 

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